27/05/2018

Astrologia e Ensino (parte I)

por Elman Bacher (*)

Júpiter, regente abstrato da nona casa é símbolo astrológico do mestre. Como o desenho facilita a compreensão de assuntos abstratos como este, sugerimos que o leitor faça quatro desenhos, para melhor fixação deste tema e principalmente se quiser expô-lo aos demais.

O primeiro desenho será um círculo com casas numeradas. Coloque o símbolo de sagitário na nona casa. A observação deste desenho nos leva a considerar, como ponto de partida, no hemisfério superior do horóscopo a expressão da consciência anímica, do esquema da vida, a nona casa, que é a expressão transcendente de sua polaridade inferior: a terceira casa.

Falar da nona casa, apenas, sem nos enraizarmos no exame da terceira, cujo regente é Mercúrio, que rege também o signo terceiro, Gêmini, seria “permanecermos no ar”. Adicionemos, portanto, em nosso desenho, o signo de Gêmini na terceira cúspide e coloquemos o símbolo de Mercúrio na terceira casa. Com este acréscimo assinalamos no hemisfério inferior um ponto que enfoca e aponta o oposto e correspondente, no hemisfério superior. Este desenho simboliza um “caminho da evolução, significando um aspecto da “consciência de separatividade” (3ª casa) que ascende para a paz da consciência anímica ou impessoal” (9ª casa).

A primeira casa, como temos dito em artigos anteriores é o “EU SOU”, representa conhecimento consciente da individualização, do SER. A segunda casa tem sua expressão identificadora na frase “EU TENHO”; é uma identificação emocional com a vida, por meio da consciência de conexão de POSSE. A terceira casa é a “ciência da vida”, pelo exercício da faculdade intelectual fria, nada emocional. Marte é o regente da primiera casa e Venus o da segunda. São expressões emocionais. Mercúrio, abstrato regente da terceira casa é, mesmo nos níveis da primitividade, a primeira expressão de percepção consciente do impessoal e do não emocional. Mercúrio representa nossa capacidade de “identificação racional”, não “emocional”. Por sua atividade damos nomes às coisas, tanto concretas como abstratas,. Mercúrio nos capacita, igualmente, na identificação das coisas, em termos de mensuração, qualidade e função. Por ele nos identificamos com a Vida, com suas coisas concretas, formas de utilização e de comunicação.

Deste ponto de vista, Mercúrio (regente da Terceira Casa do primeiro quadrante ou quadrante da absorção do círculo) é o símbolo do ato completo da aprendizagem. Mercúrio é, ainda, a faculdade transmitir fatos de uma mentalidade para outra, no recebimento de instrução ou de informações. É a linguagem expressa, pela voz, pelo gesto, pela visualização, pelos símbolos e pela escrita. É o relacionamento universal de todos entre si, dentro das atividades mentais diversas. É o símbolo de todos os estudantes e, como tal, esotericamente, a essência do todo relacionamento fraternal (por isso é Gêmini representado por dois seres humanos - gêmeos identificados). Não estamos levando em consideração afinidades exteriores, paralelos com cada um, fraternalmente, porque todos nós somos aprendizes nas experiências da vida.

Outras ponderações acerca deste desenho nos evidenciarão que todo ensino tem suas raízes no aprendizado. Maior facilidade, neste campo, depende de mantermos alerta o interesse e a faculdade de aprender.

As correntes em polaridade (na consciência), entre o hemisfério inferior e o superior, devem ser mantidas em estímulo, para o florescimento das capacidades da metade superior; Não é possível a nossa separação de qualquer parte do horóscopo; mesmo que possamos despender vinte horas de cada dia na profissão de ensinar, jamais deveremos negligenciar o aprendizado e deixar que se depauperem as faculdades mercurianas de aquisição de novos conhecimentos.

O ato de aprender é uma ignição de ciência dos fatos e de identificações. Pode ser considerado como uma inalação. Aquele que real e fortemente seja impulsionado a servir, pelo ensino, manterá viva a terceira casa. Em outras palavras, não haverá negligência de nenhuma oportunidade para aprender sempre, para atualizar-se, para superar-se continuamente. Esse processo de “absorção”, de aprimoramento, é indispensável para prevenir eventual obstrução, cristalização da habilidade de ensinar. Neste ponto nos deparamos com uma lição de sinceridade e de humildade: “Mestre é o que está sempre aprendendo”.

Se Mercúrio é símbolo de absorção mental, Júpiter – vital, radiante, dinâmico – é a abstração da “exalação”, é a transmissão do conhecimento intelectual amplificada e enriquecida pela maturidade da enriquecida pela maturidade da compreensão espiritual e dos aspectos mais profundos do conhecimento. Nessa conexão devemos adicionar outro fator ao nosso desenho inicial: o signo de Virgo na cúspide da sexta casa para completar os dois braços da cruz que, no hemisfério inferior estão regidos por Mercúrio.

Aqui o símbolo do irmão estudante é expresso numa forma prolongada, para apresentar a “fraternidade dos trabalhadores”. O Trabalho espiritualmente considerado mais como labor físico é o serviço que cada um pode prestar como contribuição o melhoramento da vida de seus semelhantes.

Virgo, como signo de Terra, exprime dependência prática: “eu trabalho para sustentar minha vida física e daqueles a quem amo”.

Essa atitude em relação à tarefa de ensinar (eu aprendo alguma coisa útil para poder ganhar dinheiro) é representada pela quadratura entre Gêmini e Virgo, que ameaça o desenvolvimento da capacidade do mestre, por que o mantem identificado com a consciência utilitária, que o levam à prática que produzem sempre atritos. A redenção desse esquema de quadratura deve ser realizada para que se possa atingir vivências superiores. Isto é revelada pela posição da sexta casa, a última do hemisfério inferior, a transição, a modulação para o hemisfério superior. A sexta casa sucede à quinta., que é a casa do Poder-Amor. Quando a consciência de trabalho por dinheiro é transmutada em criatividade por amor, e expressa SERVIÇO em prol do melhoramento da vida de todos, obtemos a redenção da sexta casa. É quando Maria, o lado feminino dentro de nós, inclina-se ante o EU Superior e diz: “Eis tua Serva, faça-se em mim segundo a Vontade do Pai, para redenção da raça humana”.

Por meio de experiências de Serviço-Amor, ganhamos compreensão de nosso objetivo como educadores, acrescentando vida aos livros, que por si só como principais instrumentos de instrução, são como conchas vazias. O verdadeiro Mestre é o que irradia essa compreensão, o que comunica nas palavras o ALGO que torna claro um ensinamento.

Agora completemos nosso desenho, adicionando o símbolo de Pisces na cúspide da décima segunda casa e em seu centro o símbolo de Netuno. Formamos, assim, a cruz dos signos comuns.

Através do primeiro braço (Gêmini) temos Mercúrio, simbolizando aquele que ensina (o professor). Sua exalação ou oposto é Júpiter, como abstração da nona casa. Mercúrio também está presente em Virgo, simbolizando aí a aplicação da experiência-serviço. A exalação da sexta casa é Netuno (e também Júpiter, outra vez, como regentes da décima segunda casa (reflexo imediato da sexta casa, forma de Consequência das causas geradas no serviço).

Considerando mais concretamente o assunto, apontemos alguns dos problemas que, cedo ou tarde, aparecem aos que sentem impulso de ensinar. Se ensinar é exprimir sabedoria seu objetivo deve ser o de iluminar. Ora, todo aquele que sente o impulso de iluminar e elevar os demais deve aceitar, de princípio, o desafio dos estados de consciência tenebrosa representados pela cristalização mental, pelo formalismo rígido de opiniões e atitudes, pelos preconceitos, pela estagnação mental, pelo tradicionalismo, e outros aspectos do hemisfério inferior, que, dentro de sí, como vozes do passado e influência do ambiente, podem formar a base perigosa da indiferença para com as necessidades impessoais ou espirituais dos estudantes. Tais provas constituem um aspecto de experiência pela qual o mestre deve passar, a fim de consolidar sua coragem, integridade e amor.

O impulso para desempenhar um serviço impessoal é sempre, mais tarde ou mais cedo, reptado por fatores econômicos. Encontrar o equilíbrio entre servir desinteressadamente e ter os recursos suficientes para viver, é uma prova das mais significativas na evolução de todo aquele que espiritualmente aspira atingir um nível mais elevado de serviço. (Continuará)
(*) Sobre Elman Bacher (aqui)
traduzido de Estudos de Astrologia, Elman Bacher pela Fraternidade Rosacruz 
Sede Central do Brasil e publicado na revista Serviço Rosacruz, janeiro, 1978